A ARTE QUESTIONA O USO DO ESPAÇO PÚBLICO
Luís Brasilino
No dia 26 de junho, cerca de 50 pessoas se encontraram na Praça Cornélia, em São Paulo (SP), para debater “a paisagem urbana que queremos”. Porém, a discussão não se deu entre conferencistas, palestrantes e espectadores, mas no Salão de Placas (Splac) – uma intervenção urbana em que os participantes desenvolveram vários tipos de arte, tendo como suporte as (irregulares) placas de eucatex com material publicitário de construtoras, que se espalham pela cidade nos finais de semana. A estudante de artes plásticas Floriana Breyer, uma das organizadoras do salão, conta que a manifestação foi uma tentativa de ‘politizar o uso do lixo’. “Queremos discutir como o espaço público está sendo usado, se é mesmo para todos e se está a serviço do social”, elucida.
Eduardo Verderame, que assim como Floriana faz parte do grupo Experiência Imersiva Ambiental (EIA), explica que essas intervenções instigam a opinião pública, “inserindo na realidade uma quebra, uma ruga, algo que possa agregar sentido, levar a questão adiante”.
Em Belo Horizonte (MG), o Grupo Poro já realizou dezenas de intervenções desde a sua criação, em 2002. Destaque para o projeto Folhas de Ouro, no qual foram colocadas, em volta de árvores da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), folhas pintadas de dourado.
Em Salvador (BA), o Grupo de Interferência Ambiental (GIA) realizou, em 2004, o Salão de Maio. Os integrantes do GIA receberam propostas de artistas de diversas regiões do Brasil e fizeram mais de 30 intervenções, como a performance O Grande Pênis Branco, em que o artista Leon passeou pelas ruas com um fantoche de pênis onde estavam coladas as bandeiras de diversos países desenvolvidos, para denunciar o turismo sexual.
Luciana Costa, do paulista Esqueleto Coletivo, lembra que, em novembro de 2004, o grupo realizou o trabalho Exército dos Executivos. “Fomos para a frente da Bolsa de Valores de São Paulo, no centro da capital, e fizemos uma passeata de engravatados que se movimentavam como um batalhão”, relata Luciana.
ARTE E POLÍTICA
Verderame, artística plástico, coloca que cada intervenção tem um motivo, mas que elas ocorrem no Brasil por razões específicas e se manifestam de diferentes formas, como protestos, levantes ou questionamentos. “Sempre procuro ajudar grupos e abrir novas frentes pois tenho a sensação de fazer parte de um grande exército que se mobiliza”, revela.
Assim, as intervenções, pelo humor ou mesmo enfrentamento, vão destacando um espírito de embate com as regras sociais. “Sem essa confrontação com o real, o trabalho se perde no meio de tantas informações”, avalia Verderame. Por isso, ele sustenta que as intervenções são importantes para levantar questões, fazer com que elas sejas discutidas e tenham seqüência.
As intervenções urbanas também questionam a lógica de mercado que vem controlando o meio artístico. Segundo Floriana, as expressões procuram criar elementos efêmeros, que não podem ser vendidos. “Com as intervenções, temos uma forma de atingir pessoas que normalmente não teriam contato com a arte – criamos situações na vida de cada um”, afirma.
Para saber mais:
Grupo Poro Zero: www.poro.redezero.org
Grupo Nova Pasta: www.inconsciente.tk EIA: www.experiencia.tk Grupo Elefante: www.elefante0.zip.net Fonte : Brasil de fato (www.brasildefato.com.br). http://www.rizoma.net/interna.php?id=221&secao=artefato Outros Links Situacionisimo
[Postado em 12 de agosto de 2005]
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=3654
Arte como transgressão e contravenção: a não-arte, o Terrorismo-Poético e o Ativismo-Estético
http://www.dissonancia.com/70-04.htm
Terrorismo Poético Pichação: arte ou transgressão?
http://www.nodo50.org/insurgentes/textos/cultura/11terrorismopoetico.htm
http://acervos.art.br/noticias/detalhe_noticiarte.php?id=642&cat=2&pageNum_submenu_rs=20&totalRows_submenu_rs=316
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